Estereofotogrametria, escaneamento facial e a Odontologia
Estereofotogrametrias e o de recursos 3D na Odontologia. (Ilustração: Shutterstock)

Estereofotogrametria, escaneamento facial e a Odontologia

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O uso da estereofotogrametria representa uma alternativa não invasiva, segura e livre de radiação ionizante para avaliação da morfologia facial.

O mundo contemporâneo tem passado por revoluções, e as transformações tecnológicas são a grande atração dessa mudança. Na Odontologia, novos protocolos de tratamento foram desenvolvidos buscando facilitar e propiciar ao profissional, paciente, técnico em prótese, pesquisador, aluno e à sociedade novas possibilidades e tomadas de decisão. As vantagens são várias: maior precisão, previsibilidade, agilidade no processo, padronização de resultados, diminuição de custo operacional e, principalmente, o número de etapas dos trabalhos. Desde os modelos dentários, fotografias 2D até o fluxo de trabalho, todos os processos sofreram alterações com a tecnologia 3D.

Os modelos dentários obtidos direta ou indiretamente em 3D para diagnóstico, tratamento e acompanhamento dos casos já fazem parte da rotina de muitos profissionais e de algumas escolas de Odontologia. Entretanto, os tratamentos mais complexos, que eventualmente envolvem alterações nas posições maxilomandibulares e nos eixos horizontal e vertical, impactam o suporte e a configuração dos tecidos moles da face. Por mais que tais alterações possam ser acompanhadas com fotografias convencionais, elas não equiparam a tridimensionalidade real do tratamento, hoje realizado em 3D. Nesse contexto, uma variedade de scanners 3D para captura da face tem sido utilizada, dos modelos mais simples aos mais complexos e com níveis de precisão normalmente proporcionais ao grau de tecnologia incorporado e ao custo. Desta forma, a união de arquivos de tomografias com os modelos digitais da arcada e da face viabiliza desde o estudo, acompanhamento e plano de tratamento de casos em graus de complexidade que variam de acordo com softwares construídos para tais fins.

Além dos benefícios de incorporar os aspectos faciais em tratamentos odontológicos 3D, o uso de softwares em conjunto com scanners faciais permite a aplicação de métricas em curva, área e volume para acompanhamento das alterações nos tecidos moles da face (Figura 1). Por sobreposição das imagens da face em 3D e por simulação, é possível realizar previsões das possíveis alterações, por exemplo, em suporte de lábio e ganho volumétrico dos terços inferiores da face (Figuras 2), simulações de rinoplastia, harmonização facial etc. A estereofotogrametria capacita situações de adição e subtração de elementos, podendo ser usada para capturar a superfície do tecido mole da face com informações corretas de geometria e textura1 durante o planejamento, permitindo ao paciente participar da tomada de decisão. O uso da estereofotogrametria representa uma alternativa não invasiva, segura e livre de radiação ionizante para avaliação da morfologia facial2.

Por meio do auxílio Fapesp #2016/14942-6, sob responsabilidade da professora Simone Soares e equipe, do Depto. de Prótese e Periodontia da FOB/USP, os recursos da estereofotogrametria têm sido utilizados amplamente há alguns anos e hoje são entendidos como a métrica padrão-ouro na área de Antropometria. Os estudos envolvem a construção de bibliotecas virtuais de diferentes padrões faciais em função de sexo e idade (Figura 3), bem como a caracterização facial de pacientes com anomalias craniofaciais3 do Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais (HRAC/USP). Através de modelos 3D, pode-se diagnosticar mudanças no crescimento do complexo craniofacial, analisando as relações transversais, anteroposterior4 e vertical5. Também têm sido conduzidas pesquisas envolvendo a cinética do reparo pós-cirúrgico e a evolução de edemas após diversos tipos de cirurgias orais maiores e menores.

Métodos considerados padrões para o diagnóstico da dimensão vertical de oclusão têm sido reavaliados com o uso de ferramentas mais fidedignas, como a estereofotogrametria, sendo também um dos alvos das pesquisas conduzidas pela equipe. Ainda nesse diapasão, as métricas das alterações da face em 3D, frente aos diferentes tratamentos protéticos, têm norteado novas direções dos estudos em desenvolvimento.

Em suma, o escaneamento facial e o seu uso para diagnóstico, tratamento e antropometria é apenas uma das utilidades que está norteando o tratamento mais moderno e previsível. A tecnologia 3D já é uma realidade, mas, sem o conhecimento básico adquirido sistematicamente é impossível atingir excelência em qualquer área da Ciência.


Referências

1. Plooij JM, Swennen GR, Rangel FA, Maal TJ, Schutyser FA, Bronkhorst EM et al. Evaluation of reproducibility and reliability of 3D soft tissue analysis using 3D stereophotogrammetry. Int J Oral Maxillofac Surg 2009;38(3):267-73.
2. Sforza C, De Menezes M, Ferrario VF. Soft and hard tissue facial anthropometry in three dimensions: what’s new? J Anthropol Sci 2013;91:150-84.
3. Jokic D, Jokic D, Uglesic V, Macan D, Knezevic P. Soft tissue changes after mandibular setback and bimaxillary surgery in Class III patients. Angle Orthod 2013;83(5):817-23.
4. Lilja J, Mars M, Elander A, Enocson L, Hagberg C, Worrell E et al. Analysis of dental arch relationships in Swedish unilateral cleft lip and palate subjects: 20-year longitudinal consecutive series treated with delayed hard palate closure. Cleft Palate Craniofac J 2006;43(5):606-11.
5. Ma X, Martin C, McIntyre G, Lin P, Mossey P. Digital three-dimensional automation of the modified huddart an bodenham scoring system for patients with cleft lip and palate. Cleft Palate Craniofac J 2017;54(4):481-6.


Coordenação:

Guilherme SaavedraGuilherme Saavedra
Professor assistente do Depto. de Materiais Odontológicos e Prótese, e professor da especialidade de Prótese Dentária do programa de pós-graduação em Odontologia Restauradora – ICT-Unesp. Professor visitante da Faculdade de Medicina Dentária da Universidade de Lisboa, em Portugal.
Orcid: 0000-0001-7108-0544.


Autores convidados:

Simone SoaresSimone Soares
Mestra em Reabilitação Oral e professora associada do Depto. de Prótese e Periodontia – FOB/USP; Doutora em Prótese Dentária – Fousp; Especialista em Prótese Dentária e Desordem Temporomandibular – CRO; Professora associada do Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais – HRAC/USP.
Orcid: 0000-0003-0811-7302.

Estevan Bonfanti


Estevam A. Bonfante
Mestre, doutor e pós-doutor em Reabilitação Oral, e professor assistente no Depto. de Prótese e Periodontia – FOB/USP; Doutorado sanduíche como visiting scientist – Universidade de Nova York, Depto. de Biomateriais e Biomimética.
Orcid: 0000-0001-6867-8350.