Renata Marques de Melo mostra que o bom polimento das cerâmicas vai além da melhor estética nas restaurações.
A importância do bom polimento das cerâmicas vai além do aspecto harmonioso e natural que proporciona melhor estética às restaurações. Entre outras, existem razões biológicas e mecânicas para que o polimento seja preferido, em detrimento da vitrificação com glaze.
Para atingir o brilho semelhante ao do esmalte dentário, o sistema de polimento deve ser capaz de alterar a topografia superficial (marcas de usinagem, por exemplo), aspecto que mais afeta o brilho. Discos Sof-Lex (3M) e pastas diamantadas estão entre os sistemas mais conhecidos, mas não conseguem por si só alcançar o brilho desejável. Dessa maneira, o acabamento com pontas de borracha, impregnadas com diamante e com diferentes formatos (como o Optrafine, da Ivoclar Vivadent, e o Vita Suprinity Polishing Set Clinical, da Vita) é o mais eficiente para cerâmicas feldspáticas1, cerâmicas de silicato de lítio e zircônia (por exemplo, Vita Suprinity Polishing Set Clinical)2.
O polimento também diminui a rugosidade do material. Essa lisura é essencial por conferir às cerâmicas feldspáticas, vitrocerâmicas e zircônias menor adesão de microrganismos, como fungos e bactérias relacionadas à cárie2-3. O glaze deveria desempenhar a mesma função, mas os estudos mostram que, por vezes, espalhá-lo adequadamente na superfície do material é difícil, pois são formados pequenos aglomerados, principalmente quando se trata do material em forma de spray1,3.
Outra questão importante é que o polimento reduz o desgaste do dente/material restaurador antagonista4. Isso já fora demonstrado e contrasta com os resultados já observados das restaurações vitrificadas que, durante o desgaste, aumentam a abrasão do antagonista devido aos resquícios que vão se soltando do glaze5-6. Por outro lado, a degradação de materiais como a zircônia também parece estar relacionada a procedimentos de polimento, que podem levar à diminuição da resistência7. Já os defeitos pré-existentes em cerâmicas vítreas, como as marcas de usinagem em CAD/CAM, que poderiam diminuir a resistência, são amenizados com acabamento e polimento8. Essa diferença de comportamento dos materiais frente ao polimento merece ponderação.
Por fim, não há uma recomendação explícita dos fabricantes sobre a necessidade de vitrificar as restaurações cerâmicas, mas o polimento é unânime. Dessa forma, mesmo que decida usar o glaze, o laboratório ou cirurgião-dentista precisa polir adequadamente para obter a melhor superfície possível.
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Referências
1. Carrabba M, Vichi A, Vultaggio G, Pallari S, Paravina R, Ferrari M. Effect of finishing and polishing on the surface roughness and gloss of feldspathic ceramic for chairside CAD/CAM systems. Oper Dent 2017;42(2):175-84.
2. Dal Piva A, Contreras L, Ribeiro FC, Anami LC, Camargo S, Jorge A et al. Monolithic ceramics: effect of finishing techniques on surface properties: bacterial adhesion and cell viability. Oper Dent 2018;43(3):315-25.
3. Contreras L, Dal Piva A, Ribeiro FC, Anami LC, Camargo S, Jorge A et al. Effects of manufacturing and finishing techniques of feldspathic ceramics on surface topography, biofilm formation, and cell viability for human gingival fibroblasts. Oper Dent 2018;43(6):593-601.
4. Mundhe K, Jain V, Pruthi G, Shah N. Clinical study to evaluate the wear of natural enamel antagonist to zirconia and metal ceramic crowns. J Prosthet Dent 2015;114(3):358-63.
5. Janyavula S, Lawson N, Cakir D, Beck P, Ramp LC, Burgess JO. The wear of polished and glazed zirconia against enamel. J Prosthet Dent 2013;109(1):22-9.
6. Amer R, Kürklü D, Kateeb E, Seghi RR. Three-body wear potential of dental yttrium-stabilized zirconia ceramic after grinding, polishing, and glazing treatments. J Prosthet Dent 2014;112(5):1151-5.
7. Zhang Y, Lawn BR. Novel zirconia materials in dentistry. J Dent Res 2018;97(2):140-7.
8. Albakry M, Guazzato M, Swain MV. Eff ect of sandblasting, grinding, polishing and glazing on the flexural strength of two pressable all-ceramic dental materials. J Dent 2004;32(2):91-9.
Renata Marques de Melo
Cirurgiã-dentista, doutora em Prótese e pesquisadora do Instituto de Ciência e Tecnologia de São José dos Campos, Unesp.
Orcid: 0000-0003-0752-6294.