Ivan Roland Huanca: um boliviano com coração brasileiro
A profissão de Ivan Roland Huanca não veio de uma herança familiar, mas sim de uma grande habilidade e aptidão.

Ivan Roland Huanca: um boliviano com coração brasileiro

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Conheça a história do cirurgião-dentista e TPD boliviano Ivan Roland Huanca, que conquistou seu espaço na Prótese Dentária mundial.

Por Andressa Trindade

Em 1994, o boliviano Ivan Ronald Huanca chegava no Brasil para começar uma nova vida: sem certezas e sem imaginar que a Odontologia o levaria a tantos outros países e culturas. “Eu vim sozinho em busca de novas oportunidades, era muito jovem, morava aqui ilegalmente e trabalhava informalmente em qualquer área que pudesse me sustentar”, relembra.

Pouco tempo depois que chegou em solo brasileiro, foi morar em Campinas, no interior de São Paulo, dividindo a casa com oito universitários de diferentes áreas, que sempre insistiam para Ivan Ronald Huanca começar a estudar. “Um deles cursava Odontologia e tinha aulas de Prótese Dentária. Eu olhava os trabalhos e ficava impressionado com as esculturas em cera. Eu achava que era sabonete. Então, me desafiei e resolvi esculpir um molar. Foi aí que percebi que eu tinha uma certa inclinação para essa área, e até hoje tenho esse dente guardado”, ressalta.

Em 1995, com 25 anos de idade e incentivado por esse colega, Ivan ingressou no curso de técnico em prótese dentária na Escola Integração, em Campinas. Trabalhei com Élbio Ramos Massruhá e depois com Julio Cesar Targon e Jean Noel Evraere. “Neste último laboratório, que à noite funcionava como escola, tive a oportunidade de começar a ministrar aulas”, relembra.

Logo após se formar, mudou-se para a capital paulista, onde começou a cursar Odontologia na Universidade Nove de Julho (Uninove) e, paralelamente, montou um pequeno laboratório em seu próprio apartamento. Esse passo inicial evoluiu para o que hoje é o Ivan Ronald Dental Training Center, que conta com consultório e laboratório, e está localizado na região central da cidade. Com o diploma em mãos, em 2006, ele seguiu a carreira acadêmica: primeiro fazendo pós-graduação e depois especialização em Prótese Dentária e Reabilitação Oral pela APCD Jardim Paulista. “Tive aula com Eurípedes Vedovato, a quem eu sou muito grato pelos ensinamentos”, destaca Ivan Ronald Huanca.

Um passo importante em sua carreira foi a sua participação em 2001 no congresso da APDESP, no qual seus três trabalhos apresentados se destacaram e renderam projeção em muitos países. “Eu esculpi um crânio em um sabonete e em uma pedra-sabão. Com eles, ganhei primeiro lugar em três congressos internacionais”, recorda-se emocionado.

Outro marco em sua formação foi o mestrado em Dentística na Universidade de Guarulhos (UnG), quando foi orientado pelos professores André Reis e Dimorvan Bordin, e recebeu um grande incentivo de Anabella Oquendo, diretora do Programa de Estética da Universidade de Nova York (Estados Unidos). “Esse título me abriu muitas portas. Cheguei a ministrar aula em oito universidades norte-americanas e em 30 instituições pelo mundo todo. Hoje, sou professor convidado da Universidade da Flórida e da Universidade de Nova York”, conta. No momento, Ivan Ronald Huanca está preparando seu projeto para fazer doutorado na Universidade de Sevilha, na Espanha.

A educação, aliás, tem um papel fundamental na vida do TPD. “O histórico profissional, a quantidade de cursos e as participações em congressos podem até ser importantes no currículo, mas a transmissão de todo esse conhecimento às novas gerações é muito mais valiosa. O conhecimento só se torna válido quando aplicado e, acima de tudo, compartilhado”, justifica.

Atuando também como protesista com foco em Estética, ele tem especial apreço pelas restaurações minimamente invasivas, trabalhando preferencialmente com cerâmica – sobretudo, com dissilicato de lítio. “Em minha tese do mestrado, fiz um estudo sobre a dupla cristalização desse material, justamente para restaurações com espessuras entre 0,1 mm e 0,2 mm”, detalha.

Em janeiro de 2011, Ivan Ronald Huanca e o sócio Ricardo Albino fundaram o Open Lab, um laboratório que explora o que há de mais moderno em tecnologia digital clínica e laboratorial. Atualmente, sua rotina se divide entre docência, clínica e laboratório.

Para tanto, o planejamento e a confiança na equipe são fundamentais. “Tudo o que eu faço é programado. Meu time da Open Lab está preparado para resolver os trabalhos diários, assim consigo tempo para me dedicar a outros projetos”, explica.

Metodologia assinada

Ivan Ronald Huanca é conhecido mundo afora por uma técnica que ele mesmo desenvolveu: a Ink Glue Technique, que possibilita executar casos clínicos sem desgaste e usando cerâmica de dissilicato de lítio. “É um método de acabamento e polimento final em facetas injetadas em cerâmica. Pode ser associado ao workflow digital e permite que a fresagem das facetas seja feita no próprio consultório”, descreve. A principal vantagem é chegar a um resultado com até 0,1 mm de espessura em dissilicato de lítio. Para criar essa inovação, ele se baseou em sua própria experiência e na de sua equipe, que trabalhava com cerâmica feldspática sobre troquel refratário. Porém, em razão da fragilidade e dificuldade de executar restaurações sem trincas ou fraturas, ele mudou o material cerâmico.

A Ink Glue Technique foi apresentada pela primeira vez no congresso da Ivoclar Vivadent, no México, em 2015. De lá para cá, já foi difundida para universidades e congressos internacionais no Brasil e em 28 países. Segundo Ivan, esse é um método simples que ajuda muitos dentistas e técnicos do mundo todo a realizar este tipo de restauração com mais facilidade.

Mas, as primeiras apresentações não foram tão bem aceitas, pois muitos profissionais não acreditavam nessa possibilidade. “Sempre quis ajudar minha equipe a resolver os trabalhos diários de forma que tudo isso fosse factível na realidade de vários profissionais. Acabei ajudando técnicos e dentistas no mundo todo, isso é mais importante para mim. Com esse foco, criei um protocolo passo a passo no qual ensino muitos alunos no mundo inteiro”, finaliza, ao complementar que a Odontologia e a Prótese Dentária brasileiras estão em um nível muito alto, com uma qualidade técnica e clínica impressionante.