eLABor_aid: técnica consiste na aquisição e processamento de uma fotografia seguindo um protocolo específico.
Um dos maiores desafios da Odontologia Restauradora na atualidade é a reprodução ótica da estrutura dental. No entanto, para que a estrutura dental possa ser adequadamente reproduzida, é indispensável sua apropriada interpretação.
Esta interpretação depende de uma série de observações que ocorrem simultaneamente. Entre elas, podemos citar a textura de superfície, brilho, translucidez, opalescência, fluorescência e a cor.
Atualmente, existem dois métodos de seleção de cor: o visual, utilizando escalas de cor; e o instrumental, que pode ser realizado por espectrofotômetros, colorímetros e câmeras digitais (DLSR)1.
Dentro deste contexto, autores1 propuseram uma técnica de fotocolorimetria digital para a interpretação e transmissão de informações relativas à cor dos elementos dentais e dos materiais restauradores, que independe da acuidade visual e experiência do operador e da padronização das escalas de cor. Atualmente, os resultados de colorimetria atingidos por esta técnica são comparáveis à espectrofotometria2.
Esta técnica, denominada eLABor_aid, consiste na aquisição e processamento de uma fotografia seguindo um protocolo específico. Equipamentos necessários para a aquisição da foto:
- Câmera fotográfica digital DSLR;
- Lente macro;
- Flash circular ou twin;
- Filtro polarizador compatível com flash;
- Cartão de balanço de brancos.
Como realizar a fotografia apropriada:
- Ajuste a câmera para a velocidade 125, abertura 22 e qualidade da foto em RAW – tais parâmetros nunca são modificados;
- Habilite a função “mostrar histograma” no visor da câmera;
- A ISO pode variar de 100 a 400, dependendo da qualidade do flash;
- O foco deverá ser ajustado para permitir a visualização da largura dos seis dentes anteriores, de canino a canino. Esta proporção na lente geralmente corresponde a 1:2;
- O flash deve ser ajustado para “manual”, em intensidade máxima 1/1;
- A lente deverá estar paralela ao cartão;
- Solicite ao paciente que deixe os dentes na posição “topo a topo”. Como avaliar se a fotografia está apropriada:
- Observe se o histograma se apresenta com o pico mais para o canto direito, sem sair do gráfico (Figura 1);
- O dente a ser avaliado deverá estar no centro superior da fotografia, e o cartão no centro inferior (Figura 2).
Como processar a foto:
- Abra o software de processamento Adobe Lightroom Classic CC;
- Importe a foto em formato RAW;
- Aplique o perfil da câmera, se estiver trabalhando com fotos realizadas com câmeras diferentes;
- Aplique o balanço de brancos, clicando sobre o conta-gotas e levando sobre a fotografia, dentro de um dos espaços em branco dos semicírculos (Figura 3), até que os valores de A e B fiquem próximos de zero (Figura 4);
- Ajuste a exposição até que o valor do cartão chegue a 80,6 (Figura 5).
Definindo a cor matematicamente
Em 1976, a Comissão Internacional de Iluminação definiu o espaço de cor visualmente perceptível em três valores:
- L* onde a luminosidade vai do preto (0) até o branco (100);
- a* que vai do verde (-) ao vermelho (+);
- b* que vai do azul (-) ao amarelo (+).
A partir daí, podemos interpretar a cor dos objetos na fotografia objetivamente, utilizando o aplicativo Classic Color Meter (https://www.ricciadams.com/projects/classic-color-meter).
Observe como no elemento 11 temos um valor diminuído de L* (71.750) em relação ao valor de L* (81.973) do elemento 21. Junto com a elevação do valor de a* e b* no elemento 11, nossa interpretação é de que o elemento 11 encontra-se escurecido (Figura 6).
Observe como o elemento apresenta-se ainda mais escurecido após o início do preparo, com a remoção do esmalte.
Esta observação pode ser facilmente quantificada. O Classic Color Meter nos mostra um valor de L* diminuído e um valor de a* aumentado, o que significa que o elemento apresenta maior quantidade de vermelho. O valor de b* aumentado significa que, após o preparo, o dente apresenta maior quantidade de amarelo também (Figura 7).
Como aplicar este conceito para os materiais restauradores
A identificação e adequada transmissão das informações para o técnico de prótese dentária, utilizando um protocolo padronizado, permitem também que trabalhos de altíssima exigência estética sejam realizados com resultados previsíveis, sem a presença do paciente junto ao técnico.
O trabalho começa com uma foto inicial apropriada, realizada dentro do protocolo eLABor_aid (Figura 8). A partir desta foto, o técnico pode calcular vários aspectos da restauração cerâmica, iniciando pela interpretação do substrato (Figuras 9 e 10). Um substrato muito escurecido necessitará de um coping mais opaco.
No caso ilustrado, o técnico utilizou a fotocolorimetria para construir um troquel opticamente integrado, dentro do protocolo eLABor_aid (Figura 11). A partir destas fotos, o técnico inicia a construção da coroa. Então, o técnico calcula a cor da cerâmica que deverá ser usada no caso. Esta escolha sempre será de uma cerâmica com um valor de L* mais elevado do que o valor final, uma vez que, durante o processo, sempre ocorre perda de luminosidade.
O caso ilustrado mostra uma coroa realizada em Celtra, uma cerâmica vítrea de silicato de lítio com reforço de zircônia (Figura 12). A coroa foi realizada totalmente a partir das fotografias e instalada no dia da prova (Figuras 13 e 14).
Atualmente, a técnica de fotocolorimetria digital eLABor_aid tem sido utilizada para diversas aplicações clínicas e laboratoriais, assim como por softwares que interpretam a cor do substrato a ser restaurado e a cor do elemento dental de referência. Além disso, também sugerem o material e a cor do coping, juntamente com a mistura de cerâmica que deve ser utilizada para atingir a cor desejada.
Referências
- Hein S, Tapia J, Bazos P. eLABor_aid: a new approach to digital shade management. Int J Esthet Dent 2017;12(2):186-202.
- Sabatini GP, Freitas M, Oshima S, Oliveira T, Floriani F, Gonçalves T et al. Comparação de dois métodos de colorimetria: espectrofotometria e fotocolorimetria (eLABor_aid). Brazilian Oral Research 2019;33:468.
Coordenação:
Guilherme Saavedra
Professor assistente do Depto. de Materiais Odontológicos e Prótese, e professor da especialidade de Prótese Dentária do programa de pós-graduação em Odontologia Restauradora – ICT-Unesp; Professor visitante da Faculdade de Medicina Dentária da Universidade de Lisboa, em Portugal.
Orcid: 0000-0001-7108-0544.
Autores convidados:
Analucia Philippi
Professora associada, doutora em Clínicas Odontológicas/Prótese Dentária e especialista em Prótese Dentária – UFSC.
Orcid: 0000-0001-8217-372X.
Diogo Viegas
Professor e doutorando em Medicina Dentária, especialidade de Reabilitação Oral – Faculdade de Medicina Dentária da Universidade de Lisboa.
Orcid: 0000-0002-6545-7875.
Paulo Kano
Mestre em Implantodontia e coordenador do Depto. de Odontologia Digital – São Leopoldo Mandic; Professor convidado do curso de pósgraduação do Depto. de Dentística – UFSC; Diretor do Instituto Paulo Kano; Técnico em Prótese Dentária.
Orcid: 0000-0001-5180-8278.
Renato Quirino Ramos
Especialista em Dentística Restauradora – ABCD Regional Florianópolis; Mestre em Dentística Restauradora e doutorando em Dentística Restauradora – UFSC; Aperfeiçoamento em Implantodontia – Cepid/UFSC; Aperfeiçoamento em Endodontia Mecanizada – IOA Criciúma.
Orcid: 0000-0002-2281-3462.