Novas zircônias e seus novos desafios

Novas zircônias e seus novos desafios

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Para Renata Marques de Melo, as zircônias que eram usadas inicialmente apenas como infraestruturas passaram a ser consideradas um potencial material para restaurações monolíticas.


Translucidez é a propriedade dos materiais que refere-se à capacidade de transmitir a luz. Nos materiais odontológicos, confere naturalidade e vitalidade às restaurações a fim de que sejam socialmente imperceptíveis. As cerâmicas com matriz vítrea se destacam no quesito translucidez e, por serem tão belas, tornaram-se as preferidas para resolução de casos anteriores. Neste sentido, opõem-se às cerâmicas policristalinas, como as zircônias, que possuem baixa capacidade de transmissão de luz e não mimetizam o esmalte dentário. Apesar disso, a atratividade da zircônia como material de resistência e durabilidade incomparáveis estimulou pesquisas que, com algumas mudanças composicionais e/ou estruturais, deixaram-na mais translúcida1-2.

Três gerações de zircônia translúcidas podem ser reconhecidas. A primeira (por exemplo, Vita YZ T e Prettau) e a segunda geração (por exemplo, Vita YZ HT, InCoris TZI e Katana ML) apresentam grãos tetragonais (aproximadamente 90%) entre 0,5 μm e 1 μm com índices de refração variáveis, portanto espalham a luz ao invés de refleti-la, tornando o material opaco. As de segunda geração são apenas ligeiramente mais refletivas3. Por outro lado, as zircônias de terceira geração (como IPS e.max ZirCAD MT, Katana STML e UTML, Vita ST e XT) possuem grande fração de fase cúbica (25%-50%), cujos grãos são maiores e mais refletivos1.

Além das características óticas, as mudanças estruturais afetam o comportamento do material de outras maneiras. Mais importante é a diminuição da resistência mecânica das zircônias cúbicas, já que as tetragonais sofrem transformação de fase tetragonal em monoclínica – o que as torna mecanicamente muito superiores às outras cerâmicas1. Em contrapartida, as zircônias cúbicas não são propensas à degradação em certas condições de temperatura e umidade como as tetragonais4. Deve-se ressaltar também que as zircônias de terceira geração são mais resistentes (aproximadamente 600 MPa) que as cerâmicas de dissilicato de lítio (aproximadamente 400 MPa), como IPS e.max CAD e Suprinity.

Modificações importantes no desempenho em fadiga e no condicionamento de superfície para adesão também ocorreram. Autores5 mostraram que a sobrevivência de restaurações simplificadas feitas com zircônia de segunda e terceira geração, após ensaio de fadiga, foi diferente, isto é, a longevidade das zircônias cúbicas foi inferior. Já os estudos sobre adesão demonstram que o desempenho é semelhante ao das zircônias convencionais6-7, mas é necessária certa cautela com procedimentos de jateamento porque as translúcidas são mais sensíveis ao dano8.

Em resumo, as zircônias que eram usadas inicialmente apenas como infraestruturas passaram a ser consideradas um potencial material para restaurações monolíticas, o que foi catalisado por mudanças estruturais para alterações da translucidez. No bojo, essas mudanças trouxeram limitações de desempenho mecânico e, portanto, as pesquisas para equilibrar o dilema resistência/características óticas (translucidez) das zircônias odontológicas devem prosseguir.

Referências
1. Zhang Y, Lawn BR. Novel zirconia materials in dentistry. J Dent Res 2018;97(2):140-7.
2. Manziuc MM et al. Optical properties of translucent zirconia: a review of the literature. The EuroBiotech Journal 2019;3(1):45-51.
3. Silva LHD, Lima E, Miranda RBP, Favero SS, Lohbauer U, Cesar PF. Dental ceramics: a review of new materials and processing methods. Braz Oral Res 2017;28;31(suppl.1):e58.
4. Flinn BD, Raigrodski AJ, Mancl LA, Toivola R, Kuykendall T. Influence of aging on flexural strength of translucent zirconia for monolithic restorations. J Prosthet Dent 2017;117(2):303-9.
5. Zucuni CP, Venturini AB, Prochnow C, Pereira GKR, Valandro LF. Load-bearing capacity under fatigue and survival rates of adhesively cemented yttrium-stabilized zirconia polycrystal monolithic simplified restorations. J Mech Behav Biomed Mater 2019;90:673-80.
6. LE M, Larsson C, Papia E. Bond strength between MDP-based cement and translucent zirconia. Dent Mater J 2019;38(3):480-9.
7. Ruales-Carrera E, Cesar PF, Henriques B, Fredel MC, Özcan M, Volpato CAM. Adhesion behavior of conventional and high-translucent zirconia: effect of surface conditioning methods and aging using an experimental methodology. J Esthet Restor Dent 2019;31(4):388-97.
8. Zhao P, Yu P, Xiong Y, Yue L, Arola D, Gao S. Does the bond strength of highly translucent zirconia show a different dependence on the airborne-particle abrasion parameters in comparison to conventional zirconia? J Prosthodont Res 2019;S1883-958(18)30454-7.

Renata Marques de Melo


Renata Marques de Melo
Cirurgiã-dentista, doutora em Prótese e pesquisadora do Instituto de Ciência e Tecnologia de São José dos Campos, Unesp.
Orcid: 0000-0003-0752-6294.